segunda-feira, 21 de junho de 2010

Onde você vê

Onde você vê um obstáculo,

alguém vê o término da viagem.

E o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,

Alguém vê a tragédia total.

E o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,

Alguém vê o fim.

E o outro vê o começo de uma nova etapa...

Onde você vê a fortuna,

Alguém vê a riqueza material.

E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia,

Alguém vê a ignorância,

Um outro compreende as limitações do companheiro,

percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.

E que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso.

Cada qual vê o que quer,

pode ou consegue enxergar.

"Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura."


(Fernando Pessoa)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Acaso

"Cada um que passa em nossa vida,

passa sozinho, pois cada pessoa é única

e nenhuma substitui outra.

Cada um que passa em nossa vida,

passa sozinho, mas não vai só

nem nos deixa sós.

Leva um pouco de nós mesmos,

deixa um pouco de si mesmo.


Há os que levam muito,

mas há os que não levam nada.

Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,

e a prova de que duas almas

não se encontram ao acaso. "


(Antoine de Saint-Exupéry)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

“Cada povo tem uma cultura própria. Cada sociedade elabora sua própria cultura e recebe a influência de outras culturas. Todas as sociedades, desde as mais simples até as mais complexas, possuem cultura. Não há sociedade sem cultura, do mesmo modo que não existe ser humano sem cultura”

(Pérsio Santos).


A Literatura é o meio mais prazeroso de estudarmos as diferentes culturas! (Sandra Garcia)


Reproduzindo aprendizagem...


"O homem é um animal

amarrado às teias de significados

que ele mesmo teceu,

sendo a cultura essas

teias."

(Cliford Geertz)




segunda-feira, 7 de junho de 2010

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


(Augusto dos Anjos)

Eu sei... (poema reversivo)

EU SEI O AMOR SENTIDO

NUM ABRAÇO QUANDO PRECISO
O BRAÇO QUE ME DÁ RESISTÊNCIA
NA FUGA À AUSÊNCIA

EU SEI O AMOR CALADO
NUM OLHAR CÚMPLICE TÃO DESEJADO
DA HARMONIA SILENCIOSA QUE ME SEGURA
NA MINHA PROCURA

EU SEI O AMOR RECEBIDO
NUMA ROSA CHÁ QUANDO OFERECIDA
O CARINHO DO PEQUENO GESTO
QUANDO NADA PEÇO

EU SEI QUE SOU TUDO
NO PÔR DO SOL QUE ME LEVA A PASSEAR
NA LUA QUE ME EXPANDE A SONHAR
NA MINHA FÉ QUE ME ETERNIZA A VOAR
EU SEI QUE AMO TUDO.

***
agora leia de baixo para cima:

EU SEI QUE AMO TUDO.
NA MINHA FÉ QUE ME ETERNIZA A VOAR
NA LUA QUE ME EXPANDE A SONHAR
NO PÔR DO SOL QUE ME LEVA A PASSEAR
EU SEI QUE SOU TUDO
QUANDO NADA PEÇO
O CARINHO DO PEQUENO GESTO
NUMA ROSA CHÁ QUANDO OFERECIDA
EU SEI O AMOR RECEBIDO
NA MINHA PROCURA
DA HARMONIA SILENCIOSA QUE ME SEGURA
NUM OLHAR CÚMPLICE TÃO DESEJADO
EU SEI O AMOR CALADO
NA FUGA À AUSÊNCIA
O BRAÇO QUE ME DÁ RESISTÊNCIA
NUM ABRAÇO QUANDO PRECISO
EU SEI O AMOR SENTIDO

(Sara Rafael)

Natureza Viva


Teu mundo se acanhou consideravelmente. Habitas a toca e nela tens pretendido ampliar países e continentes. Pelos andaimes, sujas escadas do tegúrio, o que sobra do teu coração é um atlas para os acidentes do homem. Pálido ficou o teu rosto, onde crescem barba e bigode – desordenados. Não nasce sequer capim entre o horror e a zoofilia. Ainda que você se esforce por fazer brotar no janeiro ingente uma rude bromélia áspera e viva. Não que deixe de ser delicado o modo como ajeitas o chapéu no espelhinho da jaula.
Execraste a memória de pais, tios e avós - só o teu guarda-chuva te consola, furioso ao sol, te servindo de bengala. Também não há muito pra onde ir, além do cárcere. Fora do reduzido quintal inexiste lobisomem que ouse ganir sob o luar alheio. Vasto, o teu subúrbio te protege, a um tempo hemisfério e quarteirão, quintal e ninho. Um homem não é bem isso, nem estes pelos que lhe turvam o braço.

Em vão você procurou o sentimento fraco de lhe caber no peito todos os homens, e a humanidade inteira. Não, funesta serpente, só há trapaça e rancor onde dois homens se juntam – se a causa é a solidão e a desesperança. Vai, tímido vagau, participar com mãos operárias da aturdida oficina humana. Já sabes o preço desta vida curva: de nada adianta evitar a noite em que pressentes, com nojo, na cabeluda mariposa noturna, o desenho túmido de um mandrová maduro. Sombrios jogos de ocupação dos celibatários, dos viúvos, dos dráculas, das cartomantes, dos lobos e dos vampiros.

Quando acontece da tarde inchar de moscas o tugúrio, esgueira-te pelas ruas, praças, filas, ônibus, cinemas. Vai contigo a tua sombra; o teu fantasma te consola. Ninguém percebe e nem é por você percebido. Certamente anotas de passagem o cavalheiro, no expresso, ao lado; ele é que ignora as tuas mãos brancas em excesso, de compridas unhas, e como lhe agarra o dedo uma aliança de ouro.

Inútil buscar nos manuais lupinos a decifração do problema ou de suas possíveis causas. O que há é uma floresta inteira de bichos no escuro, uns mais, outros menos acanhados, e, mesmo com esforço, difícil encontrar o animal aproximado. Será um antílope? Um leopardo ou um elefante?Quem sabe um batráquio encantado por uma medusa.

O fato é que a noite põe estrelas no céu da tua janela, e então, pela fenda do muro, crack up, que daqui se olha, possível assistir, a uma única vez, ao espetáculo do jogo de cores da dança dos camaleões.

Dúbio animal em extinção, é uma hora tão quieta, que você, de melancólico pescoço, chega a parecer um dinossauro.

(Wilson Bueno)