terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meu Deus que Estais Pendente

Meu Deus que estais pendente

(Gregório de Matos)


Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,

Em cuja lei protesto de viver,

Em cuja santa lei hei de morrer,

Animoso, constante, firme e inteiro:


Neste lance, por ser o derradeiro,

Pois vejo a minha vida anoitecer;

É, meu Jesus, a hora de se ver

A brandura de um Pai, manso Cordeiro.


Mui grande é o vosso amor e o meu delito;

Porém pode ter fim todo o pecar,

E não o vosso amor que é infinito.


Esta razão me obriga a confiar,

Que, por mais que pequei, neste conflito

Espero em vosso amor de me salvar.



Ideias Barrocas

As idéias de Deus e do pecado, ao mesmo tempo que se opõem, são complementares. Embora Deus detenha o poder da condenação da alma, está sempre disposto ao perdão, por sua misericórdia e bondade; daí deriva Sua maior glória.O soneto encobre uma formulação silogística, que se pode expressar dessa maneira: o amor de Cristo é infinito (verso 11); o meu pecado, por maior que seja, é finito, e menor que o amor de Jesus (versos 9 e 10). Logo, por maior que seja o meu pecado, eu espero salvar-me (versos 13 e 14).

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Canteiros

Quando penso em você

Fecho os olhos de saudade,

Tenho tido muita coisa

Menos a felicidade.

Correm os meus dedos longos

Em versos tristes que invento,

Nem aquilo a que me entrego

Já me dá contentamento.

Pode ser até manhã

Cedo, claro, feito o dia,

Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria.

Eu só queria ter do mato

Um gosto de framboesa,

Pra correr entre os canteiros

E esconder minha tristeza.

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza,

Deixemos de coisa, cuidemos da vida,

Senão chega a morte

Ou coisa parecida

E nos arrasta moço

Sem ter visto a vida.


(Cecília Meireles)