quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Naufragar é preciso?

Acontece que a língua não se muda por decreto; ela é a decorrência de uma evolução cultural

Começa a ser penoso para mim ler a imprensa portuguesa. Não falo da qualidade dos textos. Falo da ortografia deles. Que português é esse? Quem tomou de assalto a língua portuguesa (de Portugal) e a transformou numa versão abastardada da língua portuguesa (do Brasil)?

A sensação que tenho é que estive em coma profundo durante meses, ou anos. E, quando acordei, habitava já um planeta novo, onde as regras ortográficas que aprendi na escola foram destroçadas por vândalos extraterrestres que decidiram unilateralmente como devem escrever os portugueses.

Eis o Acordo Ortográfico, plenamente em vigor. Não aderi a ele: nesta Folha, entendo que a ortografia deve obedecer aos critérios do Brasil. Sou um convidado da casa e nenhum convidado começa a dar ordens aos seus anfitriões sobre o lugar das pratas e a moldura dos quadros. Questão de educação.

Em Portugal é outra história. E não deixa de ser hilariante a quantidade de articulistas que, no final dos seus textos, fazem uma declaração de princípios: "Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia".

A esquizofrenia é total, e os jornais são hoje mantas de retalhos. Há notícias, entrevistas ou reportagens escritas de acordo com as novas regras. As crônicas e os textos de opinião, na sua maioria, seguem as regras antigas. E depois existem zonas cinzentas, onde já ninguém sabe como escrever e mistura tudo: a nova ortografia com a velha e até, em certos casos, uma ortografia imaginária.

A intenção dos pais do Acordo Ortográfico era unificar a língua. Resultado: é o desacordo total com todo mundo a disparar para todos os lados. Como foi isso possível?

Foi possível por uma mistura de arrogância e analfabetismo. O Acordo Ortográfico começa como um típico produto da mentalidade racionalista, que sempre acreditou no poder de um decreto para alterar uma experiência histórica particular.

Acontece que a língua não se muda por decreto; ela é a decorrência de uma evolução cultural que confere aos seus falantes uma identidade própria e, mais importante, reconhecível para terceiros.

Respeito a grafia brasileira e a forma como o Brasil apagou as consoantes mudas de certas palavras ("ação", "ótimo" etc.). E respeito porque gosto de as ler assim: quando encontro essas palavras, sinto o prazer cosmopolita de saber que a língua portuguesa navegou pelo Atlântico até chegar ao outro lado do mundo, onde vestiu bermuda e se apaixonou pela garota de Ipanema.

Não respeito quem me obriga a apagar essas consoantes porque acredita que a ortografia deve ser uma mera transcrição fonética. Isso não é apenas teoricamente discutível; é, sobretudo, uma aberração prática.

Tal como escrevi várias vezes, citando o poeta português Vasco Graça Moura, que tem estudado atentamente o problema, as consoantes mudas, para os portugueses, são uma pegada etimológica importante. Mas elas transportam também informação fonética, abrindo as vogais que as antecedem. O "c" de "acção" e o "p" de "óptimo" sinalizam uma correta pronúncia.

A unidade da língua não se faz por imposição de acordos ortográficos; faz-se, como muito bem perceberam os hispânicos e os anglo-saxônicos, pela partilha da sua diversidade. E a melhor forma de partilhar uma língua passa pela sua literatura.

Não conheço nenhum brasileiro alfabetizado que sinta "desconforto" ao ler Fernando Pessoa na ortografia portuguesa. E também não conheço nenhum português alfabetizado que sinta "desconforto" ao ler Nelson Rodrigues na ortografia brasileira.

Infelizmente, conheço vários brasileiros e vários portugueses alfabetizados que sentem "desconforto" por não poderem comprar, em São Paulo ou em Lisboa, as edições correntes da literatura dos dois países a preços civilizados.

Aliás, se dúvidas houvesse sobre a falta de inteligência estratégica que persiste dos dois lados do Atlântico, onde não existe um mercado livreiro comum, bastaria citar o encerramento anunciado da livraria Camões, no Rio, que durante anos vendeu livros portugueses a leitores brasileiros.

De que servem acordos ortográficos delirantes e autoritários quando a língua naufraga sempre no meio do oceano?



João Pereira Coutinho

Limões

A vida é tolinha, tolinha, me dá limões.
Mal sabe ela que adoro limonada!
(Sandra Garcia)

A vida tem me obrigado a ser forte, não foi escolha, privilégio ou competência; foi por sobrevivência. Sim, nós podemos ser o que quisermos, basta suportarmos as dores e acreditarmos que "tudo passa". Não é fácil, mas desistir - nunca!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Tempo

  
 É doloroso observar o tempo. 
Quando você realmente dedica um pouco de atenção a ele, enxerga-o como uma força destrutiva, em cuja presença tudo se corrói e desaparece. Essa observação tem consequências, pois você vê seu mundo desmoronar e se reconstruir, em um ciclo muitas vezes doloroso, no qual suas lembranças nada mais são que escombros empilhados sobre os anos passados. 
Quando somos crianças, o tempo ainda é um mistério. Parece-nos que sempre teremos a mesma idade, que nossos pais são adultos desde sempre, que as coisas estão como sempre foram e que nada mudará em nossas vidas. Tudo é “sempre” para uma criança. Mas você começa perceber o tempo quando as pessoas ao seu redor começam a morrer. Uma avó, uma tia, um amigo, uma a uma as pessoas vão nos deixando sem que possamos fazer absolutamente nada. É quando a ilusão infantil de que as coisas são eternas desaparece, o momento em que somos forçados a acordar para a verdade de que as pessoas que amamos não são imortais, e que um dia provavelmente acabaremos sozinhos. 
E conforme a vida segue vamos descobrindo ainda que o momento em que vivemos, por melhor ou pior que seja, não é eterno. Pessoas vão embora, talvez você se mude, talvez alguém muito importante morra, talvez troque de emprego. O fato é que descobrimos que a vida é formada por ciclos e fases que vivemos, compostas por tudo e todos que nos rodeiam. E que nada é eterno. Fases às quais nunca damos o devido valor. 
Quantas vezes nos pegamos saudosos do tempo de escola, quando naquela época não víamos a hora de terminar os estudos? Quantas vezes temos saudades da pessoa querida que se foi, enquanto recusamos seus inúmeros convites de jantar enquanto vivia? O sábio ato de enxergar esses pormenores do tempo e de nossa mente confusa só nos são proporcionados quando realmente procuramos enxergar o tempo. E nada é mais efêmero em nossas vidas do que as pessoas. 
É curioso como amamos pessoas furiosamente, sejam amigos, familiares ou amantes, com a impressão de que jamais poderemos suportar uma separação. Pessoas importantes, amizades que dizemos ser para toda a vida, mas que não resistem a alguns meses de separação, quando nem mesmo temos palavras ou assunto para uma simples conversa em um reencontro desconfortável. 
Ando observando o tempo nos detalhes da vida. Uma antiga e famosa loja de sapatos, hoje é uma farmácia. Um terreno baldio, no qual tanto brinquei, está abarrotado de casas. Pastos e montes de terra se converteram em asfalto e blocos de cimento. Pessoas que amei me deixaram. Fases da vida que tanto desvalorizei, hoje me lembro com saudade e carinho. E principalmente, observo temeroso o futuro. Pela primeira vez na minha vida, dou valor para o meu viver presente. Amo as coisas que faço, meu trabalho, minha situação atual, mas principalmente, as pessoas que fazem parte da minha vida. E sei que, como todas as outras, essa fase também vai terminar. 
Talvez, por observar o tempo, estou me preparando para o fim de tudo isso e o início de outra fase da vida. Talvez, essa fase já esteja começando, e esse texto seja só para tentar admitir esse fato. De qualquer forma, desde agora, já sinto falta desses últimos anos que vivi, pois com toda a certeza foram os melhores da minha vida. Quando tudo isto acabar, quando outro momento se iniciar para mim, espero sinceramente ser capaz de abandonar esses anos e seguir em frente, desejoso de que as pessoas que fazem parte do meu mundo estejam sempre comigo, de uma forma ou de outra. Para que talvez, eu possa deixar de observar o passar do tempo como uma coisa tão destrutiva, mas sim como alicerce para uma nova vida. 

Robson Moro Graduado pela Unijales em Artes Visuais - Educação Artística Professor de Artes na E.E. Baptista Dolci

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quero parar de me doar e começar a receber.

Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber.

Caio Fernando Abreu.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Quase sem querer

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente:
Sou tão tranqüilo e tão contente.

Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.

Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos!
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas,
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto.

Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você.

(Legião Urbana)

Beijos

Nem doce nem amargo, 
Sim, um perfume no âmago 
Nem quente nem frio, 
Verdadeiro rio de fogo. 
Beijo assombra e assanha. 
 O primeiro é inesquecível, 
Demorou a acontecer, 
Foi uma busca infantil 
De calças curtas camisa suada 
E quando aconteceu, explodiu, 
O dia virou noite e mais nada. 
 Beijos bons marcam 
Deixam saudades do seu gosto, 
Molhados de paixão, 
Beijos, como águas que passam 
Debaixo da ponte do coração 
Tocam as margens úmidas 
Dos lábios que se entregam. 
 Beijos, fogo e desejo, 
Queimam as entranhas, 
 Ardem por todo corpo, 
Uma febre sem nome, 
 Que refrescam a alma.
 Beijos na face 
Parece nada esconder 
Mistério e imaginação de todos. 
Saber, só eu e você. ... 

 Celso Antonio dos Santos 
Membro da ACPEJ - Associação Casa do Poeta e do Escritor de Jales 
Poesia do livro: Porteiras. 
Celso Antonio dos Santos. ed. Câmara Brasileira de Jovens Escritores- CBJE, Rio de Janeiro- RJ, 2010

domingo, 8 de janeiro de 2012

BIG BROTHER BRASIL UM PROGRAMA IMBECIL.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão 'fuleiro'
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, 'zé-ninguém'
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme 'armadilha'.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bial
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Da muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério - não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os "heróis" protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
"professor", Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos "belos" na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos "emburrecer"
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal.
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal.

FIM

Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.