O segredo do vale da Lua
Elizabeth Goudge
É muito fácil se
encantar pelo mundo fantástico. O conto fantástico, maravilhoso faz nossa imaginação
sobrevoar por ambientes e tempos nunca imagináveis; nos apresenta personagens que
fogem ao cotidiano e à lógica; o enredo é permeado pela magia, pelos encantos e
riquezas das ações. Sou suspeita para falar sobre o “mundo fantástico”, é um gênero
da Narrativa que me encanta.
O conto fantástico
ou conto de fantasia, no qual o realismo mágico ou maravilhoso é a essência, teve
origem no século XVII, e embala até os dias atuais, o imaginário humano. Basta
um pouco de sensibilidade e criatividade para se apaixonar pelas histórias de
absurdos do mundo irreal que, além de despertar sentimentos e emoções, fazem
refletir sobre a verossimilhança com alguns acontecimentos reais.
Essa narrativa fantástica, infanto-juvenil, com narrador em 3ªpessoa, é baseada no romance de 1946, The Little White Horse, da mesma autora. O filme se passa em 1840, apresenta o espaço e o figurino característicos da época, as ruínas, os castelos e as torres remetem à harmonia e verossimilhança do tempo. Essa obra é um clássico da literatura inglesa.
Nesse filme podemos
observar um intertexto com o filme “A Bela e a Fera”. A música no início do
filme; a rosa vermelha na mão de Bela, enquanto está no cemitério (a rosa
vermelha encantada, em A Bela e a Fera); a morte do pai de Bela Bontempo (a prisão
do pai de Bela em A Bela e a Fera), o tio “carrancudo e calado” de Bela
Bontempo (a fera em A Bela e a Fera), o livro mágico que Bela herdou do pai (o
gosto de Bela pela leitura, em A Bela e a Fera), são algumas das características
dessa intertextualidade. Além de outras, como a falência do pai de Bela
Bontempo (a falência do pai de Bela em a Bela e a Fera), a biblioteca nas duas
narrativas; as duas personagens iniciam a narrativa órfãs de mãe e, assim como
a Bela, de A Bela e a Fera, Bela Bontempo também desenvolve sentimentos de amor,
que superam o preconceito contra o “diferente” – pelo chefe dos saqueadores,
Robin De Noir.
Bela Bontempo (Dakota Blue Richards), a protagonista da história, é uma menina de 13 anos, órfã de mãe que, após perder também o pai, precisa se mudar para a mansão do Tio Benjamin (Joan Gruffudd), pois seu pai perdeu todos os bens. A nova casa, no misterioso Vale da Lua, é maravilhosa, triste, sombria e fria. O tio, um homem forte e rancoroso, que prefere o silêncio ao convívio social, tenta manter-se austero diante da sobrinha, mas os encantos da menina acabam dominando as emoções que ele tanto tenta esconder.
Apesar da casa não parecer acolhedora, por conta da ranzinzices do tio, Bela se sente acolhida, principalmente, porque conhece o chefe de cozinha Pierre (Michael Webber), personagem parecida com um duende, cheia de truques e magias. Segundo o cozinheiro, a magia havia voltada àquela casa, depois que a menina chegou e a incentivou a ler o livro deixado como herança pelo pai. Ao continuar a leitura do livro mágico, Bela descobre que a Princesa da Lua, revoltada com a ganância dos homens e se sentindo traída, lançou uma maldição sobre o vale, e somente uma pessoa de coração puro poderia salvá-los da eterna escuridão. Bela tinha um papel importantíssimo na vida de todas as pessoas daquele lugar, precisava quebrar o feitiço antes da 5000ª lua.
E no desenvolvimento
da história, alguns assuntos relevantes para a sociedade como orgulho, rancor, ganância,
vão se entrelaçando à magia e aos feitiços do mundo fantasioso, o que nos
permite, diante da informalidade dos fatos, refletir sobre nossas ações. É uma
história encantadora, que aborda importantes temas sociais, principalmente, sobre
a morte e a dor da perda de um ente querido.
Sandra Garcia