quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Propaganda enganosa

Quando falamos em propaganda enganosa, logo pensamos em algum produto do comércio, em promessas de políticos em época de caça ao voto, nas qualidades que a pessoa amada insiste em dizer que tem, entre outras. No entanto, há uma propaganda que passa despercebida – o príncipe encantado.

Passamos a vida acreditando que podemos encontrar esse príncipe. Quando aparece alguém, o amor que é cego acha que o encontrou. Mas, não leva muito tempo para descobrirmos que por de trás de belos sorrisos, existe um sapo. É triste!

O pior não é cairmos uma, duas ou mais vezes no “conto de fadas”. O mais grave é não percebermos que nas histórias encantadas, as princesas nunca escolhem os seus príncipes, são escolhidas por eles.

Vejamos Branca de Neve, que está num caixão de vidro, envenenada por uma maçã, quando um belo príncipe lhe dá o beijo que cura. No caso da Bela Adormecida, um bravo aventureiro, ultrapassa as barreiras, invade o castelo onde todos dormem há cem anos, e num beijo desperta a princesa.

A Branca de Neve não tem escolha, fica com o príncipe ou volta para o caixão. A Bela Adormecida, por gratidão, está na mesma situação, o príncipe ou o sono eterno. No caso da Princesa e o Sapo, ou ela beija o sapo ou fica sem a bola de ouro. Materialista que é a danada, beija logo o monstro. A Rapunzel, num desespero de causa, aceita a ajuda do persistente príncipe ou vai amargar o resto da vida na torre.

A Cinderela me assusta! É a única que fez escolha própria, queria muito ir ao baile onde o príncipe escolheria uma esposa. E, com ajuda da fada madrinha, poderzinho básico que as outras não possuem, finge que é princesa (até o momento era apenas gata borralheira), usa de magia para chegar até o baile, dança com o príncipe, e depois foge astuciosamente, deixando-o apaixonado. Nesse vai e vem de encantos, ela deixa de limpar o chão da madrasta e vai viver feliz para sempre num lindo castelo com o príncipe que seduziu, cercada de empregados. Muito espertinha!

Os contos dizem que os príncipes são belos jovens, herdeiros de grandes castelos, e corajosos viajantes em busca de aventura. Estes dotes nunca foram confirmados pelas princesas. Talvez propaganda enganosa.

Em nenhuma dessas histórias somos apresentados às características negativas, como mau-hálito, maus modos à mesa, falta de higiene pessoal, personalidades trogloditas, vícios, enfim, inerentes aos seres primitivos. É óbvio, que a história não levantaria provas contra si mesma. Talvez por isso, as princesas não são avisadas destas possíveis tragédias, e se veem na obrigação de aceitar, por gratidão, seus heróis.

Porém, seria impossível, inimaginável, pensar a vida sem estes contos. Imaginem mulheres, termos a certeza de que jamais encontraremos um príncipe. Seria catastrófico! Sem os contos de fadas não sonharíamos encontrar produto melhor. Desse modo, devemos seguir a vida em busca do sonho encantado, do direito de sermos felizes, respeitadas. Viva aos Contos de Fadas!


(Sandra Garcia)

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